Deputado tenta se explicar, mas acaba repetindo que povo africano é amaldiçoada por Deus

Ao contextualizar a sua afirmação de que a África é um continente amaldiçoado por Deus, para se defender da acusação de que é racista e homofóbico, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, acabou mostrando, mais uma vez, o quanto é preconceituoso.

Em entrevista ao site “Verdade Gospel”, do pastor Silas Malafaia, Feliciano disse que no começo de 2011, em resposta a um internauta, de fato escreveu no Twitter que Noé amaldiçoou o seu filho cuja descendência povoou a região que hoje é o continente africano.

Acrescentou que na mesma ocasião disse que “toda maldição pode ser quebrada na cruz de Cristo” — afirmação essa que demonstraria que ele não é racista, conforme fica subentendido em sua reposta.

Segue o trecho em que ele reafirma seu preconceito contra os africanos: “Alguém me fez uma pergunta sobre o porquê do continente africano ser tão sofrido, descobri depois que foi um cidadão muito astuto da comunidade GLBTT. Quando usei a Bíblia para responder, falando sobre o caso do patriarca Noé ter lançado uma maldição sobre um dos seus três filhos e deste filho vieram os que povoaram o que chamamos hoje de continente africano, falei sobre a escravidão, sobre as doenças que tiveram origem lá, como o ebola e a Aids; falei sobre a fome, as guerras e outras coisas, e ensinei que toda maldição pode ser quebrada na cruz de Cristo. Os ativistas então me ancoraram instantaneamente na polêmica do (deputado) Bolsonaro (com Preta Gil) e, como são experts em internet e principalmente em redes sociais, horas depois eu estava nos TT e fui rotulado de racista.”

Noé amaldiçoou o seu filho Cam (grafa-se também “Cã”) porque foi visto nu por ele em sua tenda, depois de ter tomado vinho. Cam riu da nudez do pai, diz a Bíblia. Os outros dois filhos — Sem e Jafé — foram abençoados porque entraram de costas na tenda e cobriram o corpo de Noé.

A maldição de Noé se estendeu aos descendentes de Cam. Daí porque Feliciano continua sustentando que os africanos (pelo menos os não cristãos) são herdeiros da triste sina, por parte de Canaã, filho de Cam.

Feliciano disse em 2011 que Cam foi amaldiçoado porque ele foi muito mais além do que ver o pai nu. “Alguns eruditos [em Bíblia] afirmam que a palavra rir aponta para prazer, então o filho abusa da nudez do pai”, disse o pastor, de acordo com relato naquele ano da Época. “Em seguida, Feliciano conclui que esse seria ‘possivelmente o primeiro ato de homossexualismo da história”, diz a revista.

Em resumo, Feliciano acha que a África tem sido atingida por males, como a pobreza e doenças, porque Cam teve uma relação homossexual com seu pai, que estava enebriado pelo vinho. Nenhum outro pastor diz tal coisa, ao menos em público, nas redes sociais.

Na entrevista ao "Verdade Gospel", Feliciano afirmou que, desde o episódio de seus posts no Twitter sobre a África, passou a sofrer perseguição religiosa, inclusive tendo de responder a processos. “Se eu for condenado pela Justiça por citar a Bíblia e fazer um comentário, então se iniciará neste país uma perseguição religiosa como nunca antes e tudo antes da votação do PL 122 [que criminaliza a homofobia].”

As afirmações preconceituosas de Feliciano sobre a África voltaram a ter destaque na imprensa e internet porque ele foi indicado pelo seu partido para assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Do Mais PB
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