Por David Pogue
A cada minuto, nossos computadores estão mais perto de nós.No começo eles estavam somente nos centros de dados das empresas. Surgiu então o PC de mesa, a um metro de nós. Depois o notebook, mais perto. Depois o smartphone, nos nossos bolsos. E agora? Computadores nos pulsos?
Exatamente. Aparentemente depois de um acordo silencioso, a indústria de tecnologia decidiu que 2013 será o ano do relógio de pulso inteligente (smartwatch).
A ideia básica faz sentido. Você já tem um smartphone. Não seria legal se ele se comunicasse com seu relógio por meio de uma rede sem fio?
Imagine: o relógio poderia vibrar ou emitir um som sempre que você recebesse uma ligação, e-mail ou mensagem. É o fim da velha desculpa “desculpe não te ligar de volta, meu celular estava na mochila”. Também é o fim da procura pelo celular em momentos pouco convenientes (ao volante, por exemplo).
Esses relógios também podem fazer com que o smartphone emita um som quando está perdido em casa. É bem mais fácil do que usar serviços que encontram celulares, como o Find My iPhone.
Eles também podem servir como uma “coleira”. Se você esquecer o smartphone no restaurante, o relógio vibra para lembrá-lo de voltar para pegar o aparelho.
Testei o Meta Watch (US$ 180), o Cookoo (US$
130), o Casio G-Shock GB-6900 (US$ 180) e o I´m Watch (US$ 350, no
Brasil por R$ 679). Até a Apple supostamente estaria estudando a
criação de um iWatch.
Mas eles têm algumas características em comum. Primeiro: esses relógios são espessos e grandalhões, qualidades boas em uma boa sopa, talvez, mas não em pulsos humanos.
Em segundo, eles se comunicam com seu smartphone por meio de Bluetooth. É preciso sincronizar o relógio com o smartphone no primeiro dia de uso, e sempre que você desativa o Modo Avião e volta para o uso normal do celular. A maioria dos relógios usa um aplicativo de smartphone para realizar essa tarefa.
A maior parte desses relógios usa Bluetooth 4.0, o que significa que seu funcionamento consome pouca bateria do celular, talvez 5% ou 10%. Mas esse valor ocorre apenas em smartphones que também tenham o Bluetooth 4.0, como os iPhones 4S e 5.
Por fim, os manuais de instrução são péssimos ou simplesmente não existem. Parece que as empresas ficaram preocupadas em fazer os relógios funcionarem e depois se esqueceram de explicar como eles funcionam.
Seu pulso está pronto? Vamos então às análises.
Casio G-SHOCK GB-6900 (US$180)
Esse relógio lembra muito outros modelos da Casio: popular, masculino, robusto e à prova d´água.
Mas esse vibra e emite sons quando recebe e-mails ou chamadas no iPhone (suporte para Android a caminho), mas, infelizmente, não suporta mensagens SMS. Também não há identificação de chamada, a minúscula tela informa apenas que uma ligação está ativa. Para e-mail, o endereço do remetente rola vagarosamente pela tela. Dá para eliminar essas mensagens de alerta com dois toques na tela do relógio. É o único gesto suportado pela tela.
O relógio também altera automaticamente o fuso horário durante viagens, em sincronia com o smartphone.
As funções são limitadas, mas o relógio funciona bem e não consome bateria. Uma bateria dura dois anos. O relógio tem quatro botões, típicos de relógios digitais, como cronômetro e botão de funções.
Cookoo Watch (US$130)
O design redondo e os ponteiros analógicos são elegantes. Apenas a espessura do relógio (dois centímetros) mostra que ele não é um modelo da Swatch.
Não há tela. Em vez disso, alguns discretos ícones se iluminam na parte de trás do relógio para indicar eventos como chamadas, lembretes de agenda e posts do Facebook (e-mail e mensagens SMS chegarão em breve, segundo o fabricante). Se quiser saber quem está por trás das mensagens ou o conteúdo delas, você terá que usar o smartphone.
O Cookoo fornece ainda aviso de bateria baixa do smartphone. O relógio também pode ser usado como disparador da câmera do smartphone, um recurso útil para autorretratos. Há ainda um recurso meio estranho de informar seu local a seus amigos do Facebook.
A bateria dura nove meses e o preço é razoável. Mas o relógio tem muitos problemas e deixa a desejar em recursos.
Meta Watch
Texto e imagens são exibidos sobre fundo de cor prata, algo que dificulta a leitura em algumas situações. As instruções de configuração no iPhone são incrivelmente complexas. O relógio recebe alertas de mensagens de SMS e chamadas, mas e-mail, agenda, posts do Facebook, tuites e alarmes ainda estão sendo implementados pelo fabricante.
O relógio não tem um manual de instruções e nem mesmo a página de ajuda online detalha as funções dos seis botões do relógio.
Isso é ruim, pois o Meta Watch é até um produto promissor. O modelo Frame (US$ 200) tem espessura semelhante à de um relógio comum (o modelo Strata, de US$ 180, tem material de qualidade um pouco inferior). A bateria de ambos dura cinco dias.
Você carrega a bateria pro meio de um adaptador USB e o relógio é a prova d´água, podendo ser usado na piscina ou no chuveiro.
O relógio também roda widgets, como aplicativos de ações e clima. São três telas Home com suporte para quatro widgets em cada. O fabricante espera que futuramente desenvolvedores criem apps para o relógio. No momento, porém, o relógio parece um protótipo.
I´m Watch (de US$ 400 até US$ 20,000 para versões com joias)
Esse relógio tem um nome esquisito e roda uma versão antiga do Android, mas parece um iPod nano no seu pulso.
É o único produto analisado com uma tela sensível ao toque de verdade. Dá para usar gestos para navegar entre telas com pequenos ícones de aplicativos. Facebook e Twitter estão entre os aplicativos. Há ainda apps de bússola, calculadora, agenda de contatos, tocador de música e outros. Uma loja online oferece outros aplicativos básicos, alguns pagos.
Infelizmente, esse relógio é grandalhão, o software tem muitas falhas e é lento. A bateria mal dura um dia. Em tese, ele pode ser usado para fazer ligações telefônicas, mas o som é péssimo.
Aqui está um nome melhor para esse relógio I’m Unfinished (estou inacabado).
Martian Watch (US$250 até US$300)
Esse relógio elegante é analógico. Uma pequena área no fundo do relógio serve como tela e mostra informações sobre mensagens SMS, ligações, e-mail e atualizações do Twitter e Facebook.
No iPhone, por enquanto o recurso de encontrar o smartphone não funciona, e o relógio só exibe informações de mensagens de SMS. Essas limitações devem ser corrigidas no fim deste mês, com o lançamento do aplicativo do relógio para o iPhone.
Mesmo assim, só dá para ver 40 caracteres de
mensagens SMS e 20 caracteres de mensagens do Facebook e do Twitter. O
alerta de e-mail só mostra a quantidade de mensagens novas, mas não seu
conteúdo.
O recurso mais impressionante, sem dúvida, é o de usar o relógio para iniciar chamadas apenas com comandos de voz. O relógio se comunica com o recurso de discagem por voz do Android e com o Siri, do iPhone.
Basta apertar um botão do relógio e falar “ligue para minha mãe” e pronto, você começa a falar com ela por meio do relógio (que tem microfone e alto-falante embutidos). Também dá para ditar mensagens SMS e e-mails e checar a agenda usando comandos de voz. A qualidade de som é boa, embora não seja suficiente em ambientes barulhentos.
Sério, que recurso bacana e útil. É isso aí, pessoal: Dick Tracy, James Bond. O futuro.
Fora isso, porém, dá para pensar se há alguma maldição sobre produtos dessa categoria. Por que esses relógios são tão cheios de problemas de software e têm tantos recursos improvisados?
Os relógios da Casio e o Martian até merecem mais consideração na hora da compra. Mas, se você perguntar aos outros relógios que horas são, eles dirão: ainda é cedo.
IG
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