Ministro garante que não haverá disputa de médicos estrangeiros com brasileiros

Atrair médicos estrangeiros para ocupar postos de trabalho nas periferias e no interior é uma política inédita e, portanto, não pode ser tratada como um "tabu" no Brasil. A afirmação é do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que em entrevista ao iG diz ver no país uma situação emergencial, que justifica a adoção dessa estratégia pelo governo federal. O primeiro governo a atrair médicos estrangeiros foi o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso , recorda o ministro.


"Não pode ser tabu no Brasil o Ministério da Saúde ter uma política de atração de médicos estrangeiros", diz Padilha, lembrando que este mesmo caminho foi buscado por outros países, como Inglaterra, Canadá Austrália ou Estados Unidos, para suprir a falta de médicos.

Padilha ressaltou que o edital de atração de médicos, ainda em fase de elaboração, dará prioridade aos profissionais brasileiros interessados em preencher esses postos de trabalho. E assegurou que o programa do governo vai fixar critérios claros sobre onde e como esses profissionais poderão atuar.

Até agora, o governo demonstrou interesse em atrair profissionais vindos de países como Cuba ou Portugal. Segundo o ministro, não serão aceitos profissionais vindos de países com uma relação de médicos por 1 mil habitantes menor que a do Brasil.

Dados coletados pelo Conselho Federal de Medicina mostram que há 1,8 médicos para cada 1 mil habitantes no país. A desigualdade entre os Estados, porém, é enorme. Segundo o Ministério da Saúde, 22 Estados estão abaixo dessa média. Na Inglaterra, que também possui um sistema de saúde público e universal como o Brasil, a relação é de 2,7 médicos por 1 mil habitantes. “Faltam médicos no Brasil”, reafirmou o ministro.

Na entrevista, Padilha reage aos críticos do programa e diz lamentar "ataques pessoais" que afirma receber por conta do projeto. Ele se queixa também de críticas apontando uma suposta desqualificação dos profissionais estrangeiros. Ainda assim, segundo ele, o governo vai se encarregar de assegurar que os profissionais interessados em trabalhar no país possuam a formação e preparo necessários. A avaliação de três semanas que será feita pelas universidades federais, acrescentou o ministro, não seguirá os moldes do programa de revalidação de diplomas estrangeiros.


"O ministério não quer o estrangeiro disputando mercado com o médico brasileiro", disse. Para o ministro, o momento exige a discussão de múltiplas propostas para resolver a falta de médicos nas unidades de saúde espalhadas pelo país. Além de modificações na carreira, investimentos em infraestrutura, ele acredita que a formação precisa de reformas.

Confira os principais tópicos da entrevista com o ministro:

Médicos estrangeiros


Ao defender que a política do governo para atrair médicos estrangeiros não pode ser tratada como um “tabu”, Padilha reafirma que o edital que será lançado pelo ministério para atrair médicos para os postos de atendimento das unidades básicas de saúde dará prioridade aos brasileiros. As vagas que não forem preenchidas por eles serão destinadas aos estrangeiros. Ele afirma que essa é uma política comum em outros países e que já foi adotada no Brasil, sob FHC.


Revalidação de diplomas

O ministro afirma que todos os médicos estrangeiros que vierem trabalhar no País terão de passar por uma avaliação de três semanas nas universidades federais. Ele descarta a necessidade de que eles sejam aprovados no programa de revalidação de diplomas brasileiro, o Revalida. "Quando ele faz o Revalida, pode atuar em qualquer área. O ministério não quer o estrangeiro disputando mercado com o médico brasileiro", diz.


Críticas ao programa e ataques pessoais

Dizendo se sentir atacado pessoalmente por críticos da proposta, Padilha afirma lamentar "profundamente" as possíveis tentativas de politizar o debate. Ele garante que as críticas construtivas "para tornar o programa o mais perfeito possível" são bem-vindas e lembrou: "O primeiro ministro a trazer cubanos para o Brasil era do governo Fernando Henrique Cardoso".

Custos do programa

Sem quantificar quanto o governo pretende destinar ao programa, Padilha afirma que "não há limites de recursos para a saúde da população brasileira". Segundo ele, os gastos do projeto ainda dependem da quantidade de interessados que se apresentarem e da remuneração que será oferecida a esses profissionais, que ainda não foi determinada. O Provab será usado como referência inicial da demanda por profissionais, que é estimada em aproximadamente 9 mil médicos. O mesmo programa é visto como uma possível referência para a definição das bolsas pagas aos médicos, de R$ 8 mil.

Especialização precoce

Formar médicos mais preocupados com a população e preparados para lidar com a realidade das pessoas é uma necessidade, segundo o ministro. Na opinião dele, que é infectologista, os estudantes de Medicina não se dedicam como deveriam à parte prática do curso, o internato. Deixam de lado a dedicação aos pacientes para estudar para exames de residência médica, por "uma pressão pela especialização". Ele defende mudanças na formação dos médicos.


Carreira de Estado para médicos

Resolver o problema da falta de médicos nas periferias das grandes cidades e no interior do país exigirá diferentes ações, segundo o ministro. Para ele, a criação de uma carreira de Estado para o médico, proposta defendida por entidades médicas para sanar a má distribuição dos profissionais no país, é apenas "uma das propostas possíveis" e precisa ser debatida. Na opinião do ministro, a ideia é interessante apenas para algumas especialidades médicas.

IG

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