Racismo faz africanos que moram na PB ter vontade de ir embora do Brasil

Casarões coloridos, roupas e adereços despojados. Alegria, dança... Indignação. Um refrão parece soar o que muitos querem dizer para o mundo. Em alto e bom som eles cantam: eu sou de lá, sou da África! Negros, estrangeiros, jovens, que vivem na Paraíba, no Nordeste, e, por meio do hip hop, tentam mostrar uma realidade diferente. A tarefa não é fácil. Tanto que os jovens confessam: muitas vezes, têm vontade de ir embora do Brasil. Motivo? Racismo.

"Racismo: opiniões diversas, problemas parecidos":


No mundo artístico, Vivian Mouvi, 27 anos, é conhecido como Opai Big Big. Herve Yawo Novinyo Baba, 20, é o Izy Mistura. Eles formam a dupla “Dois Africanos”, criada para divulgar no Brasil a cultura do continente, visto por muitos como “pobre e sofrido”. Big revela que, por vezes, chorou ao se deparar com declarações de gente ignorante. “O preconceito ainda é grande, uma vez uma mulher chegou pra mim, com um ar de superioridade, e perguntou se na África tinha comida. Aquilo me doeu muito”, disse com os olhos cheios de lágrimas.

Izy complementa: “As pessoas deveriam pesquisar mais sobre o continente africano. A maioria nem sabe que a África tem vários países, acha que tudo é uma coisa só”. Estudante de Letras, na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, Izy regularmente está em João Pessoa, capital paraibana, onde se encontra com o parceiro musical Opai Big Big. “Quando estamos juntos compartilhamos alegria, mas também os momentos difíceis, resultantes do choque de cultura e preconceito por parte de muitos brasileiros”.

Estudante de Relações Internacionais, na Universidade Federal da Paraíba, Big também se lembra de várias situações de discriminação racial no Brasil. “Uma vez, estava com o Izy numa boate, em João Pessoa, e em determinado momento o DJ projetou num telão um clipe que mostrava crianças passando fome na África (Izy ri em tom de desprezo à situação, durante a entrevista). Automaticamente, todos olharam pra gente e alguns até se afastaram. Sentimo-nos tão constrangidos que fomos embora. Quando isso acontece, bate na hora a vontade de voltar para o nosso Pais, onde isso não existe”.

“Na África, é o contrário. Mesmo as pessoas de cor branca são muito bem tratadas e até estrangeiros recebem atenção e amor como qualquer um”, revela Vivian. “A gente espera um dia ver isso fora da África. Todos somos seres humanos, independentemente da cor da pele. E é isso que importa”, complementa em forma de apelo.




Videoclipe - O cenário composto de casarões e gente descontraída dançando o hip hop fica no centro histórico de João Pessoa. Foi lá que os “Dois Africanos” se sentiram à vontade para mostrar o lado alegre do continente de origem, estratégia na tarefa de conscientizar a população.

A música “Eu sou de lá” retrata uma África desconhecida por milhares de pessoas, não só brasileiras. Trechos como: “você não sabe nada sobre minha história”, “liberdade é aceitar as realidades” e “se quer entender tem que procurar desde o início” são partes de uma letra de reflexão e impacto.

Em dois meses, o clipe chegou a 43 mil acessos no Youtube e proporciona contatos com a dupla de artistas. “Vamos para o Rio de Janeiro fazer shows por lá e não escondemos a animação, isso porque, a cada apresentação, temos a sensação de plantar uma semente de conscientização nas pessoas, para que assim consigamos um futuro um pouco diferente do que vivemos”, destaca Big. 



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