Ministérios da Justiça e da Fazenda investigam sistema Telexfree
Uma suspeita de pirâmide financeira mobiliza dois
ministérios, procons, delegacias, Cade, CVM e Banco Central, ministérios
públicos. A empresa investigada é a Ympactus, com sede em Vitória,
responsável pelo serviço de telefonia pela internet Telexfree.
O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional
do Consumidor, investiga em âmbito nacional o modelo de negócio
Telexfree. Trata-se de um sistema de venda de créditos para uso de
telefone pela internet (Voip, na sigla em inglês) que, segundo o
advogado da empresa, Horst Fuchs, tem 600 mil usuários no mundo, sendo
90% deles no Brasil. Ele nega qualquer irregularidade.
Na segunda-feira (11), o jornalista Luís Nassiff tratou a
Telexfree como "o golpe do século", em seu blog, e anunciou a tomada de
providências pelo governo. O site, segundo ele, foi derrubado como
retaliação. Em texto divulgado nesta terça-feira (12), Nassiff afirma
que seu blog foi tirado do ar "dezenas de vezes" para impedir a
divulgação das denúncias. Ele também informou que, na tarde de
segunda-feira, a empresa havia determinado a "debandada dos
divulgadores" .
"Durante um ano, o esquema TelexFree envolveu um milhão
de pessoas e movimentou mais de R$ 300 milhões através de uma versão
online do velho golpe da pirâmide", escreveu Nassiff.
Divulgação
Imagem do site explica funcionamento do sistema
A empresa se apresenta como prestadora de
telefonia Voip. Os interessados podem atuar como divulgadores do
sistema, por meio de publicidade pela internet. Há dois tipos de
contratato anual, o ADCentral, de US$ 299 e que promete ganho líquido de
US$ 2.295,80, e o ADCentral Family, de US$ 1.375, e ganho líquido de
US$ 11.599. O divulgador ganha US$ 20 a cada novo divulgador que
conquistar para o plano ADCentral, e US$ 100 para o ADCentral Family. As
informações constam de uma apresentação disponível em um site de
divulgação do serviço.
Segundo o advogado Fuchs, que representa a
Telexfree e trata o sistema como "marketing multinível", a remuneração
média fica entre R$ 4 mil e R$ 8 mil por mês. Exceções chegam a faturar
R$ 100 mil, diz ele ao iG
.
De acordo a assessoria de imprensa do Ministério Público
de Minas Gerais, a reclamação de uma pessoa cuja mãe se sentiu
financeiramente lesada pelo sistema foi encaminhada para a procuradoria
criminal, sob suspeita de pirâmide financeira. No comunicado divulgado nesta terça-feira (12), a
Secretaria Nacional do Consumidor trata o tema apenas como denúncias
relativas a captação de poupança popular. O órgão afirma ter recebido
denúncias contra o Telexfree dos Procons de Acre e Pernambuco e dos
ministérios públicos de Acre e Mato Grosso, em janeiro, e que solicitou
aos Procons de todo o país que comuniquem eventuais processos envolvendo
o serviço.
Segundo Fuchs, fiscais do Ministério da Fazenda visitaram
a sede da empresa nesta terça (12), no edifício Petro Tower, em Vitória
(ES), e solicitaram documentos. Na segunda-feira (11), o departamento
jurídico do Telexfree determinou que "imediatamente todos os
divulgadores que tenham blog, portal ou Facebook" retirem os anúncios do
ar "porque há muitos excessos que não são pactuados pela empresa",
afirma o advogado.
"A oferta de enriquecimento ilícito não é filosofia da empresa", reitera Fuchs. O Ministério da Fazenda afirma que a Secretaria de
Acompanhamento Econômico (Seae), notificada também pela SNC, aguarda um
posicionamento da Procuradoria da Fazenda sobre os procedimentos da
empresa para se pronunciar. Também foram notificados o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Comissão de Valores
Mobiliário (CVM) e o Banco Central (BC).
Reclamações em oito Estados Além de Minas Gerais, há reclamações contra o Telexfree
em ao menos outros seis Estados, diz a delegada Gracimeri Gaviorno, da
Delegacia de Defraudações de Vitória (ES): Espírito Santo, Acre, Paraná,
Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pernambuco.
"Vamos identificar mais pessoas, seja quem patrocina ou quem perde dinheiro", afirma, por telefone.
Segundo Daniella Barcellos, chefe da divisão de
reclamações do Procon do Acre, a empresa faz reuniões públicas diárias
em Rio Branco. "Aqui no Acre essa empresa chegou como uma campanha
eleitora ostensiva, mas com um candidato só e com promessa de dinheiro
fácil."
Em São Paulo, o Procon da capital informou não ter
recebido nenhuma reclamação até fevereiro, mas a empresa Ympactus
Comercial é alvo de um processo no Juizado Especial Cível (JEC) de
recisão de contrato e devolução de dinheiro.
A Polícia Federal trata o caso como suspeita de estelionato .
Em nota,
informa que até o momento, “o possível cometimento de um esquema
conhecido como 'pirâmide' pela Telexfree” não está sendo investigado
pela corporação, por ser “possível incidência clássica do crime de
estelionato”, que é de competência das polícias civis dos Estados.
Fuchs nega que a empresa atue sob o esquema de pirâmide. “O que muitos consideram uma máscara, uma maracutaia, uma armação... na verdade o propósito nosso é o inverso. ”, diz.
Sobre o fato de a Ympactus ser registrada como
microempresa – o que limitaria o faturamento bruto a R$ 360 mil por ano
–, Fuchs afirma que o processo de alteração já foi iniciado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário