Cinema em Guarabira: sem final feliz

Por Joseilton Gomes, com informações do historiador Vicente Barbosa

A cidade de Guarabira (PB) já teve cinema. A sétima arte chegou ao município no final da década de 20, a partir da instalação do “Cinema Independência” por um cidadão chamado Sindô Trigueiro. Naquela época eram exibidas sessões de cinema mudo, pois o progresso ainda não havia chegado à região, mesmo assim o público local se divertia com as projeções.



Somente na década de 30 é que o cinema em Guarabira ganha maior intensidade, aos cuidados de José Freire de Lima, popular Zezinho de Gila, que recebeu do pai a responsabilidade de dirigir a atração. Gila, então, deu impulso ao negócio e intensificou a exibição de grandes nomes do cinema da época, como ‘Rodolfo Valentino, em Filho do Sheik’, Tom Mix e Charles Chaplin, por exemplo, com os famosos projetores da Pathé. Como o cinema ainda era mudo, as películas eram animadas ao som de um piano.
***


Seu Zezinho de Gila, quem primeiro promoveu a exibição 
de um filme nacional em Guarabira. Na foto ele aparece ao lado
do professor e historiador Vicente Barbosa

Na mesma época, o diretor do cinema decidiu mudar o nome da casa para “Cinema João Pessoa”, em homenagem ao mártir da ‘Revolução de 30’. Posteriormente, em 1933, houve a compra de todo maquinário que até então era alugado pela viúva de Sindô Trigueiro, precursor do cinema em Guarabira.
Novamente, o proprietário do cinema resolve mudar o nome do local para “Cinema Guarany”, onde ocorreu a primeira exibição de um filme nacional, ainda em 1933. Durante as sessões uma bandinha animava a plateia.

Como ainda não havia rádio no município, a propaganda dos filmes era feita por meio de cartazes e anúncios públicos. Nonda de Zé Travassos era o ‘garoto propaganda’, usado por Zezinho de Gila, que caminhava por toda a cidade portando cartazes pendurados e uma sineta na mão, anunciando a atração ao povo que aguardava ansioso e curioso. Não demorou muito para uma nova forma de marketing aparecer. Logo a sineta foi substituída por bumbo, tarol e um funil, tocado por Zerequete, Ninô e Pai Tonho, respectivamente.

Já bastante prestigiado em Guarabira, em 16 de agosto de 1935 o cinema teve uma ascensão ainda maior com a chegada do cinema falado. O primeiro filme falado exibido foi “Sombra da Noite”. Foi algo realmente extraordinário e inesquecível para quem presenciou e ouviu o áudio do filme na projeção. O fato também consagrou Zezinho de Gila, que teve seu nome escrito na história das projeções cinematográficas em Guarabira.



Cine S. José e Cine S. Luiz (Fotos: Blog do Martinho Alves

A chagada do cinema falado foi bastante comemorada no município, tanto que a casa cinematográfica de Zezinho passou a ter dois ambientes: a primeira e a segunda classe. Na primeira classe só frequentava gente da alta sociedade, como Osmar de Aquino e Sabiniano Maia, políticos influentes da época. O resto da população, chamada de ‘ralé anarquista’, tinha por opção a segunda classe, onde quase tudo era improvisado e desconfortável.  


Antigo Cine S. José, hoje teatro Geraldo Alverga

Como o cinema não teve o apoio do poder público local, que sempre foi omisso a esse tipo de atividade, José Freire de Lima cansou de ter de lidar sozinho com os custos e com o sofrível sistema de iluminação da época, alimentado pelo motor ‘National’ (70 H.P.), então, decidiu partir para a capital João Pessoa, desativando o “Cinema Guarany”. Por quase 10 anos o cinema de Guarabira ‘ficou mudo’.



Prédio o antigo Cine S. Luis, atualmente abriga a Igreja da Graça


Após passar um tempo desativado, no ano de 1950 o cinema volta a ser aberto na cidade, por Antônio Pereira de Lucena e Antônio Freitas Albuquerque. Juntos eles abrem o “Cinema São Luís”, que usava uma tela pequena onde os filmes eram exibidos em 16 mm, porém, o público voltou a comparecer. 

Posteriormente, chega o Cine São José, aberto pelo músico e desportista Benedito Targino. Na década de 60, Guarabira contava já com dois cinemas: o “Cinema São Luís” e o “Cinema São José”, este último funcionava com tela grande proporcionando uma visão panorâmica.



Antigo Cine Moderno à direita. O local  (Fotos: Google Street V.)

No ano de 1966 o empresário Ulisses Stanislau de Lucena comprou o Cine São Luis. Na década de 70, Expedito Paulo da Silva também resolveu comprar o Cine São José, dando origem ao popular “Cine Moderno”, que tempos depois fora desativado causando o fim das sessões de cinema no município.

O Cine São José cedeu seu espaço ao teatro municipal Geraldo Alverga. O Cine São Luis funcionou onde hoje é a Igreja da Graça, próximo aos Correios. Enquanto que o Cine Moderno fechou, talvez pela falta de apoio, e o local virou escritório de banda, também de propriedade de Expedito da Silva. Mais tarde o prédio foi alugado e virou templo da Igreja Universal do Reino de Deus. A igreja deixou o recinto e o lugar deve abrira uma clínica médica.

Como há anos não existe opção de cinema em Guarabira, a população não tem acesso à sétima arte. O único jeito de frequentar cinema é viajando para a capital do Estado, onde é possível assistir as grandes produções cinematográficas, pois em Guarabira ‘o filme não teve um final feliz’.

http://www.cadernodematerias.com/



2 comentários:

Arquimedes Barros de Medeiros disse...

saiba mais sobre os Trigueiros na Paraíba e no RN, : https://meiratrigueiro.blogspot.com/2016/08/seu-trigueiro-um-canguaretamense.html?m=1

Arquimedes Barros de Medeiros disse...

Anos depois, viúvo e com sete filhos casou-se com a minha mãe Leonor que teve mais cincos filhos. Foi em Patos que Seu Trigueiro constituiu a sua família, a sua vida profissional e sua vida social. Carlos Dantas Trigueiro era na verdade um patoense de coração. Seu Trigueiro, era filho de Manoel Henriques Trigueiro (conhecido por Sindô) e de Galdina Dantas Trigueiro (conhecida como Dona Mimosa), o nosso avô Sindô era um homem culto que pensava além do seu tempo, tocava piano, maestro, arranjador e foi o proprietário do primeiro cinema de Guarabira, cidade que o acolheu ainda jovem, segundo relatos orais dos que o conheceram e com ele conviveram. O nosso avô e nossa avó gostavam de

Igreja Nª Srª do Desterro - 1745
promover festas, recitais e sarais que se tornaram famosos em Guarabira na primeira metade do século passado.
A família Trigueiro é festeira por hereditariedade dos nossos bisavós, dos nossos avós e do nosso pai Seu Trigueiro. Gostar de realizar festas e de reunir a família se estende, também, aos Trigueiro do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e é sem dúvida uma tradição sociocultural dos nossos antepassados preservada até hoje pelas novas gerações. E assim Somos Trigueiro, aqui na Paraíba, no Rio Grande do Norte, Pernambuco ou em qualquer outro lugar. (Quero agradecer ao primo Jocildo Trigueiro e a prima Tânia Trigueiro pelas informações sobre a família.)

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